O que é o Tiro ao Alvo?

O tiro ao alvo praticado com armas de ar comprimido é uma das várias modalidades de tiro desportivo. O tiro desportivo pode ser praticado com várias armas, desde o arco, a besta, as armas de caça ou as de bala. Na verdade e apesar de as armas serem vistas como um grande mal por algumas mentes menos esclarecidas, elas são responsáveis por tudo o que a humanidade é hoje. Estiveram envolvidas em algumas coisas más, é verdade mas também não se devem esquecer que provavelmente muitas seriam bem piores se não houvesse armas. Não se pode nem deve culpar as armas porque é no homem que está a razão da má utilização. Quantas não são as vezes que elas são utilizadas em nome de um qualquer DEUS e com fins nada pacíficos. Não me vou alongar mais em considerações sobre este assunto pois, não quero ser mal interpretado. As armas de ar comprimido já existiam no século XVI e a sua aplicação além de cinegética e militar depressa passou a fazer parte de clubes que viram o tiro desportivo como uma mais-valia.

Neste caso, vou falar somente das armas de ar comprimido com um calibre máximo de munição (chumbos) de 4,5m/m.

Estas dividem-se em dois géneros, as de cano articulado conhecidas por pressão de ar e as de precisão, também conhecidas por especiais ou olímpicas. A nova legislação introduziu algumas alterações no que diz respeito em particular ao transporte de armas e posse das mesmas, no entanto as armas articuladas ou de recreio continuam com o mesmo enquadramento legal. Os locais onde se pode praticar tiro em Portugal estão preferencialmente no litoral, a FPT tem as suas instalações no complexo desportivo do Jamor em Lisboa. Depois há os clubes que estão inscritos na FPT que promovem esta modalidade mas quase todos eles longe do interior do País, há distritos como o de Vila Real e Bragança que não tem um único clube federado e outros como, Aveiro, Leiria, Portalegre, Castelo Branco e Santarém que até há pouco tempo não tinham um único clube federado onde se praticasse o tiro com ar comprimido. E só para perceberem bem o alcance do que estou a dizer, reparem que estou a falar de Distritos, não de Concelhos. Imaginem que falo de um distrito em que o único clube federado está na sede desse mesmo distrito, uma grande parte dos possíveis interessados em praticar tiro pode estar a 50, 75, ou a 100 Km do local.   


A prática do tiro ao alvo como desporto para todos surgiu nos anos 70 mas teve o auge nas décadas de 80 e 90. Infelizmente a entrada dos anos 2000 não trouxeram coisas boas ao tiro pois, desde 2006, que praticamente desapareceram as provas ligadas às festas anuais de verão. Como muitos sabem esta modalidade era comum em praticamente todas as festas organizadas por coletividades ou outras entidades. Os praticantes eram quase todos os que tinham uma arma de ar comprimido em casa, o que levava as organizações a não descurar a modalidade, uma prova de tiro em qualquer localidade juntava com facilidade 40 atiradores e isso significava um bom encaixe monetário para as organizações. O INATEL, que sempre teve uma palavra a dizer no que diz respeito aos desportos amadores foi um grande dinamizador da modalidade desde os anos 80, a maior parte dos atiradores que participaram ou participam ainda nos diversos campeonatos Distritais do Inatel, iniciavam-se nas provas de tiro ao alvo das festas ou das coletividades nas localidades onde residiam. Infelizmente nos últimos dois anos também o Inatel tem cortado muitos apoios o que tem contribuído mais uma vez para o desaparecimento da modalidade. Muitos dos participantes nas provas do Inatel subiram ainda mais alto e conseguiram chegar ao escalão máximo, a Federação Portuguesa de Tiro. As causas que levaram a que as provas de tiro ao alvo fossem acabando são difíceis de entender, há quem diga que foram as alterações da legislação, ora isto não tem sentido nenhum pois o desaparecimento dos torneios de tiro ao alvo começaram em 2002 e foram aumentando gradualmente, a legislação também não os proíbe. Fatores monetários talvez, mas a crise só começou em 2008. Assim parece-me que a principal razão é o desinteresse não só por parte das organizações mas também dos atiradores (muitos deles completamente amadores), que se viam obrigados a competir com outros que já frequentavam campeonatos mais competitivos, logo tinham muito mais experiencia. Aqui competia às organizações fazer com que estas diferenças fossem atenuadas, no entanto foram cometidos erros graves na tentativa de melhorar a situação.

O facto de quererem atrair muitos e bons atiradores, levou-os a aumentar o valor dos prémios e compreendia-se, no entanto fez com que desistissem os atiradores mais fracos e que habitualmente só atiravam naquele dia na prova que era na sua terra. Mais grave ainda, na maior parte dos sítios cometeram o maior erro que podia ser feito. Alteraram o tamanho dos alvos e nessa altura tiraram todas as hipóteses a quem era mais fraco, pois para os bons atiradores era indiferente. Tantos erros juntos somaram-se a mais outro, as organizações deviam perceber também que os atiradores mais fracos é que os faziam ganhar dinheiro pois, eram esses que estavam ali para se divertirem e faziam de tudo um pouco para tentar uma melhor classificação. Os atiradores melhores atiravam uma vez ou duas, faziam o máximo da pontuação e sentavam-se.

 



Estas são algumas razões que levaram a que o tiro ao alvo deixasse de ser uma modalidade com seguidores. Muitas são apontadas como a principal, no entanto é difícil de afirmar quem tem razão. A verdade é que neste momento são praticamente inexistentes as provas em festas e, os campeonatos Distritais realizados pelo Inatel resumem-se a metade das provas que até aqui eram feitas. Aquela que a meu ver parece ser a mais evidente é a fraca colaboração entre os Dirigentes do Inatel e da FPT. Não sendo um desporto com projeção mediática torna sempre mais difícil o investimento por parte dos clubes, seria evidente que num contexto de aproximação destas duas entidades o salto que o tiro desportivo com ar comprimido dava seria bastante grande. Neste momento todas as pessoas envolvidas no tiro e que realmente gostam da modalidade fazem de tudo para que se consiga envolver novos interessados. Outra coisa que é ainda mais importante é de uma vez por todas desmistificar as armas como um mal terrível, e ajudar os pais e as crianças de hoje a perceber os benefícios do tiro desportivo. Melhorar a concentração e o autodomínio, a autoestima e o respeito pelos outros, fomenta a perseverança e a responsabilidade.

Pena é que em cada concelho não haja um clube de tiro que fomentasse o tiro com ar comprimido. Mesmo sem treinadores, a maior parte dos atiradores mais velhos tem capacidades suficientes para ajudar os mais novos no domínio das técnicas principais e das regras essenciais.